Custe-nos o que custar, Trump é um homem do seu tempo", mas que tempo é esse? Hoje começa um novo mundo


 

Já não vivemos num mundo bipolar, nem num mundo unipolar, nem sequer num mundo multipolar. O novo mandato de Donald Trump, que hoje se inaugura nos Estados Unidos, marca o fim oficial da dita ordem mundial do pós-II Guerra. E é possível que só dentro de quatro anos, quando a administração Trump 2.0 chegar ao fim, venhamos a ter a verdadeira noção deste admirável mundo novo

Quando José Filipe Pinto estudou geografia, ensinaram-lhe o famoso adágio - Deus fez o mundo, mas os holandeses fizeram a Holanda. “O que se esqueceram de mencionar foi que o livro de cheques fez os Estados Unidos da América”, adianta o especialista em Relações Internacionais e professor catedrático, à distância de “muitos anos” desde os tempos de estudante. O comentário surge a propósito de uma das mais recentes e controversas propostas feitas pelo novo presidente norte-americano, que toma posse esta segunda-feira para um segundo (e último) mandato nos EUA.

“A maior parte das pessoas esquece-se que a maior parte do território dos EUA foi comprado a outros países, designadamente Espanha, França, México e inclusivamente a Dinamarca”, adianta José Filipe Pinto. “Se a memória não me falha, a última aquisição dos EUA foi a das Ilhas Virgens, compradas precisamente à Dinamarca. E é daí que vem a visão da compra da Gronelândia de que Donald Trump tem falado - não é uma invenção, é a recuperação de uma ideia antiga, que remonta pelo menos à década de 40 do século passado, quando foi feita a primeira proposta para comprar essa ilha à Dinamarca.”Como com inúmeras outras ameaças de Trump desde que venceu as presidenciais de novembro (e já antes disso), os analistas têm-se desdobrado em considerações e avaliações sobre o impacto que a nova administração norte-americana vai ter a nível internacional, num contexto geopolítico volátil e em rápida e constante mutação. 

No caso da Gronelândia, em particular considerando o seu PIB, há quem destaque que Trump nem sequer precisa de a comprar, pode só arrendá-la. E numa altura em que a liderança da região autónoma dinamarquesa parece estar a aproveitar a ameaça transatlântica para ver que ofertas obtém da parte de Copenhaga, a questão Gronelândia funciona como pedra-de-toque para uma discussão bem mais alargada: a segunda administração Trump marca o fim da atual ordem mundial?

“Custe-nos o que custar, Trump é um homem do seu tempo, é alguém que já percebeu que vivemos num mundo de múltiplas ordens, o que não é o mesmo que um mundo multipolar”, responde José Filipe Pinto. “Num mundo multipolar há vários centros de decisão com regras comuns, num mundo de múltiplas ordens são vários os centros de decisão e cada um tem as suas regras. E neste mundo de múltiplas ordens são vários os centros de decisão e cada um tem as suas regras. E neste mundo de múltiplas ordens, Trump vai reivindicar a sua zona de influência da ordem liberal, que compete com a ordem eurasiana liderada por Vladimir Putin e com a ordem da rota da seda liderada por Xi Jinping, quando começa também a perfilar-se uma outra ordem muçulmana possivelmente liderada pela Turquia.”


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